Introdução
Nasci em 25 de abril de 1962. Minha família era pobre e no nosso endereço a letra F de fundos insistia em nos acompanhar. Em quase todas as casas que moramos eram feitas de madeiras e algumas com muitas goteiras. Sempre contei com o carinho dos meus pais e irmãos. A pobreza não tem o poder de tirar duas coisas de nós: o amor e a integridade. Uma família simples, mas unida. Hoje percebo o valor da pobreza em minha vida. Percebo que sou um homem mais grato e mais sensível aos que sofrem. Minha peregrinação em missão sem dúvida passa por essa família e por suas circunstâncias de vida. Uma família que sempre ajudou aos mais necessitados e carentes, tendo uma mãe com o coração como de Dorcas, que ao morrer, “todas as viúvas...chorando e mostrando os vestidos e outras roupas que Dorcas havia feito quando estava viva” (At 9:35). Cansei de ver pessoas em casa sendo auxiliados por minha mãe, que ensinava as mulheres simples a fazer roupas, sabão, tomate seco, frutas em compotas e por ai vai.
A presente reflexão diz respeito à porta dos fundos da igreja. Muitas pessoas entram na igreja e muitas pessoas também acabam saindo. A maior parte dos pesquisadores do crescimento da igreja analisa as avenidas que dão acesso à igreja. Isso certamente é necessário para se entender o que faz com que as pessoas busquem uma determinada igreja. Em contrapartida, é necessário haver um interesse e uma preocupação por parte dos pastores e pesquisadores na área do crescimento em relação à porta dos fundos. Caso contrário, a busca pelo crescimento pode ser interesseira, apenas numérica, tendo o membro como um número estatístico. Mais cedo ou mais tarde essa pessoa perceberá que não passa de um número a mais ou menos em sua igreja. Como resultado, vai aos poucos se aproximando da porta dos fundos, para então passar por ela e acabar saindo.
Introdução
A questão da Pastoral é, a meu ver, um dos desafios mais urgentes para trabalhar essa integração (certamente outro é Emilio E. Castro). Costas afirma que a pastoral latino americana, por ausência de uma compreensão missiológica, é uma pastoral: de repetição, profissional e eclesiocêntrica (Costas 1973:79-81). De repetição porque foi (e às vezes ainda é) uma disciplina que repetiu os modelos norte-americanos e europeus. Profissional porque personalizada em um único indivíduo: o pastor. Eclesiocêntrica porque o labor dessa pastoral não é da igreja para o mundo mas da igreja para a igreja.
Quando nós falamos sobre pastoral é necessário falar sobre modelos. Existem diferentes modelos para diferentes contextos e situações. A Bíblia nos dá os princípios. O contexto nos fornece a arena na qual a pastoral será desenvolvida. Essencialmente, a atividade pastoral (ou ministério) no Antigo Testamento é, em primeiro lugar, contextual. Orlando Costas afirma que a nossa pastoral "deve estar orientada as situações concretas" (1975:100) em que vive o ser humano. Isso significa que a práxis pastoral depende de sua própria situação. A pastoral não é um fim em si mesma. Ela é uma maneira para desenvolver a missão e a prioridade de Deus. Ela é um serviço (ministério) para alcançar o amor redentivo de Deus no mundo. Ela é contextual porque depende das circunstâncias específicas de cada contexto.
Ver a cidade com os olhos de Deus é o desafio desta reflexão. Ver a cidade com os nossos olhos o resultado será o caos. A maioria de nós conseguiria ver muito mais o negativo, o feio, o cruel, a dor, a injustiça, a opressão, o medo e coisas semelhantes. Ver a cidade apenas com olhos humanos é frustrante e desesperançoso. Precisamos ver com os olhos da fé, da esperança e do amor, e isto se é possível em Deus.