1. “Do Jardim do Éden à Nova Jerusalém”: A Cidade na Bíblia
Existem duas imagens muito claras na Bíblia a respeito da geografia da humanidade: o Jardim do Éden e a Nova Jerusalém. O jardim é prefigurado como a harmonia de Deus e a nova Jerusalém como a cidade redimida caracteriza pela diversidade na unidade. Diversidade porque será uma “grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas...” É essa riqueza multiétnica, multicultural, multilinguística que se juntam para celebrar o Cordeiro. Unidade porque estas nações, tribos, povos e línguas agora estarão “em pé diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação” (Ap 7:9-10). O Cordeiro, que redimiu e salvou estas nações, tribos, povos é o elo de ligação e todos clamam: ao Cordeiro pertence a salvação. Esta é a beleza e a riqueza de uma cidade marcada pela diversidade (símbolo da criatividade e respeito de Deus para todas as culturas) que unifica em Cristo, o Cordeiro. Assim passa a se desenvolver a dramática história da humanidade. A humanidade agora, inclusive nós, vive no período pós – pré: pós-jardim e pré-nova Jerusalém. É nesse período que somos chamados a viver: na lembrança do que era e na esperança do que virá. Entre o trauma do pecado esperança da redenção. Entre o já e ainda não. É nesse período somos convocados a viver e desenvolver nossa missão. A Bíblia passa a revelar a história de um povo peregrino, que anda de cidade em cidade, em busca da terra prometida. Passa a ser, portanto, a história da redenção e da salvação da humanidade, que é acima de tudo a história do amor de Deus que busca a redimir seu povo dos seus pecados.
Nossa história se dá neste período do jardim à cidade santa. Não podemos nos esquecer de nenhum deles. O jardim nos lembra (1) qual era o propósito de Deus para humanidade e também (2) qual foi a decisão/resposta do ser humano para com esse propósito. Esquecer do jardim é se esquecer de onde viemos. Não podemos lembrar do Jardim como apenas a geografia da tentação e do pecado. Minha percepção é que nos lembramos muito mais do pecado e da serpente (tentador) do que o próprio Deus. Isso demonstra a tendência que temos para lembrar mais das coisas ruins e negativas. Precisamos e devemos lembrar que “Deus andava no jardim pela viração do dia” (Gn 3:8). Deus não somente andava no jardim, mas falava. O jardim é uma demonstração clara de que Deus é o Deus-da-relação. Diante da decisão errada do ser humano, sua fala foi e continua sendo a fala que busca a relação com sua criatura: onde estás? (Gn 3:9). Até o dia em que estaremos na nova Jerusalém, continuará ecoando nos quatro cantos da terra a mesma voz: onde estás? Onde estás revela o caráter e o clamor amoroso de Deus, como também revela o nosso caráter e a nossa disposição para o pecado. E foi por causa desta disposição para o pecado que Deus “lançou fora do Jardim do Éden, a fim de lavrar a terra de que fora tomado” (Gn 3:23).
Também não podemos viver no aqui e agora sem a visão do celeste. O protestantismo acertou em nos ensinar que não somos deste mundo, que o nosso lar é lá no céu. Mas errou em não enfatizar que devemos viver no já com o paradigma do ainda não. O celeste porvir, a cidade celestial, deve nos impulsionar a viver e desenvolver nossa missão na cidade terrestre. Sem essa utopia e esperança não tem sentido viver neste mundo. Não somos chamados para viver separado deste mundo, mas como separados de Deus para o mundo. Se no jardim o ser humano foi expulso (Gn 3:24), na nova Jerusalém, informados por João, somos recebidos por Jesus, pois “pelo sangue, nos libertou dos nossos pecados” (Ap 1:5). Quando expulsos andamos como errantes e sem-teto nos assentos da vida. Agora, redimidos pelo sangue do Cordeiro, entramos nas moradas/habitações preparadas por ele mesmo.
Eis a trama da história da humanidade: da expulsão ao acolhimento, da condenação a redenção, dos guardas querubins e espadas cortantes (Gn 3:24) ao Cordeiro de Deus, da servidão à adoração. A pergunta continua sendo a mesma: onde estás? Da expulsão do Jardim do Éden às portas da Nova Jerusalém continua ecoando esse onde estás. Eis, portanto, a nossa missão, que na verdade é a missão de Deus, que é a de ajudar as pessoas a responderem a pergunta mesma onde estás? Deus, por meio de nós e sua igreja, continua perguntando aos expulsos do jardim: onde estas? Ele pergunta porque seu desejo é que “milhões de milhões e milhares de milhares” (Ap 5:11) possam proclamar em alta voz: “Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza e sabedoria, e força e honra, e glória, e louvor” (Ap 5:12).
Vimos que “a Bíblia começa com um jardim perfeito e termina com uma cidade perfeita” (LIM 1988:38).
2. “Depois do Jardim do Éden e antes da Nova Jerusalém”: A Velha Cidade (Jerusalém)
Logo após a expulsão do jardim do Éden o ser humano agora precisa recomeçar sua vida. No Jardim ele possuía alimentos, frutas, sombra e água fresca. Agora, sem teto, “em fadigas obterá dela [terra] o sustento durante os dias da tua vida. Ela produzirá cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes a terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás” (Gn 3:17-19). Agora, o ser humano tem que “lavrar a terra de que fora tomado” (Gn 3:23).
É agora, depois do Jardim do Éden e antes da nova Jerusalém, que o trama da história humana se desenvolve. Pão, sombra e água fresca passam a ser a busca desesperada do ser humano até os dias de hoje. Pão como símbolo do alimento diário. Sombra como símbolo de teto, casa e lar. Água fresca como símbolo das coisas que saciam a sede do ser humano. Nessa busca encontramos uma história de beleza e maldade cujo ator principal é o próprio ser humano. Para conseguir essas coisas ele é capaz de tudo: de amar e odiar, de cantar e amaldiçoar, de tocar e matar, de construir e destruir. E as cidades passam a fazer parte integrante nesta história. Eis a cidade de Babel e sua torre.
A cidade de Babel é, a meu ver, um símbolo negativo da relação entre o ser humano e Deus. Babel é justamente o contrário daquilo que Deus intencionava para a cidade. Babel é a cidade-mãe da secularização. Sua proposta era viver uma vida onde o centro de todas as coisas não era Deus, mas eles mesmos, querendo tornar seus nomes célebres (Gn 11:4). Eles no centro e Deus na periferia. Um culto a eles mesmos.
Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda terra. Então desceu Deus para ver a cidade e a torre, que os filhos dos homens edificaram; e o Senhor disse: Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas o começo, agora não haverá restrição para tudo o que intentarem fazer. Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a linguagem do outro. Destarte, o Senhor os dispersou dali para a superfície da terra; e cessaram de edificar a cidade (Gn 11:4-8).
Deus toma essa atitude por entender que isto era apenas o começo. Ou seja, muito mais estava por vir por serem unidos e falarem a mesma língua. Deus sempre se mostrou preocupado com inclusividade e não exclusividade dos povos. Caminha assim, a cidade de Babel com sua torre era uma candidata a dominadora, egocêntrica, superioridade cultural (mesma língua). Deus percebe isso e os dispersa. A cidade que Deus deseja é inclusiva, multicultural, multilinguística, multiétnica. O único a ser adorado é ele e não a torre. Desde cedo, Deus já nos dava pistas que o evangelho iria ser pregado, proclamado e vivido num contexto multicultural. Que o desafio do evangelho iria ser transcultural, ainda que dentro de uma mesma cidade, como são as grandes cidades do mundo de hoje. Em Babel, eles estavam buscando a unidade em uniformidade – um povo vivendo juntos em uma grande cidade, tendo uma torre e uma mesma língua em comum. Porém, em nossas cidades de hoje nós celebramos a unidade em diversidade. A diversidade das línguas, das culturas, das classes sociais, das festas, etc... ou seja, um mundo multicultural. Se nós como igreja queremos falar relevantemente para este mundo, precisamos aprender a conviver e a cruzar essas barreiras culturais e raciais.
A uniformidade da cidade de Babel precisa dar lugar a rica diversidade da Nova Jerusalém. Na Revelação do Apocalipses as nações marcharão para a cidade, cada povo e cultura trará seus dons e talentos em frente de toda a humanidade. Será uma festa das nações. Nações que aparentemente foram destruídas no decorrer da história irão marchar para a Cidade de Deus, limpas e convertidas, trazendo sua glória para dentro dela. Esta é a beleza do lindo significado da descrição que temos da Cidade de Deus com doze portões cada um feito de pérolas, paredes de jaspe e com doze fundações, cada uma com pedras preciosas diferentes, e as ruas pavimentadas com ouro – que rica diversidade que se une ao redor do trono de Deus.
Muitas das nossas cidades de hoje ilustram a diversidade da cidade moderna. Ande pelas ruas de São Paulo e você encontrará centenas de padarias portuguesas. Entre em uma livraria e você encontrará um cristão, um espírita e um ateu procurando por algo que lhes interesse. Você pode escolher comer uma bela macarronada no Bexiga ou uma comida japonesa no bairro da liberdade. Se preferir, você pode degustar uma porção de carne seca acebolada ao som de um pagode, em algum bar da cidade. Ao andar no centro, você acabará inevitavelmente se esbarrando nas barracas dos camelôs, onde se compra quase de tudo, e ainda por quebra acaba comendo um acarajé, caso você não tenha problemas com comidas dedicadas aos santos da Bahia. Pedintes, homens de terno e gravata, as cores dos times de futebol, carros e muita gente. Um microcosmo – um mosaico – do nosso mundo atual. No final dos tempos, os tesouros das nações serão redimidos e encontrará seu lugar na Cidade de Deus, a nova Jerusalém.
Seria muito afirmar que a Babel se tornará a nova Jerusalém? A cidade de Satanás se torna na Cidade de Deus. O exclusivo, uniforme, pecadora cidade com sua alta torre, se transforma agora na cidade aberta, diversa, que recepciona com seus portões abertos dia e noite. E nós vivemos na cidade do meio - depois do Jardim do Éden e antes da Nova Jerusalém – que é a velha Jerusalém. O tempo na cidade ambígua, esta misturado entre o bem e o mal, certo e errado, belo e horrível, riqueza e pobreza, fraco e forte, poderoso e o sem voz. Uma cidade que nos alegra é também a cidade cheia de situações que nos causa pavores. É um lugar ambíguo. E na verdade não sabemos muito o que fazer com isto.
Por isso - esse sentimento de não saber o que fazer – faço três perguntas que devem nortear nossa reflexão enquanto caminhamos e vivemos nas cidades modernas:
Creio que nossas repostas à estas perguntas indicarão os caminhos para podermos ver a cidade com os olhos de Deus.
2.1. O que Deus pensa da cidade?
Se queremos falar sobre a visão de Deus para – como Ele vê a cidade – precisamos começar pelo centro de tudo, pelo amor de Deus pela cidade. A maioria das pessoas vê a cidade como centro da maldade, crueldade, impiedade, impunidade, criminalidade, corrupção, e coisas afins. É certo que todas estas situações, e muitas outras ainda, fazem parte até mesmo do cotidiano da cidade. Porém, não deve ser esta a nossa abordagem da cidade. A nossa abordagem deve ser o amor de Deus - porque Deus amou o mundo. Ao criar todas as coisas, viu Deus que era bom. Seu olhar foi o olhar da bondade e da beleza (Gn 1:31). Estou convencido que se existe algo que necessita ser mudado em nossa perspectiva em relação à cidade é a nossa visão, ou seja, o modo como vemos a cidade. Ouso a dizer que o modo como vemos a cidade determinará o tipo de envolvimento para com ela.
Deus não somente que ao criar viu que era bom, mas também Deus ama a cidade como se fosse sua. Em Ezequiel 16:1-14 temos uma profunda descrição do amor de Deus para com a cidade.
(1) Veio a mim esta palavra do SENHOR: (2) “Filho do homem, confronte Jerusalém com suas práticas detestáveis (3) e diga: Assim diz o Soberano, o SENHOR, a Jerusalém: Sua origem e seu nascimento foram na terra dos cananeus; seu pai era um amorreu e sua mãe uma hitita. (4) Seu nascimento foi assim: no dia em que você nasceu, o seu cordão umbilical não foi cortado, você não foi lavada com água para que ficasse limpa, não foi esfregada com sal nem enrolada em panos. (5) Ninguém olhou para você com piedade nem teve suficiente compaixão para fazer qualquer uma dessas coisas por você. Ao contrário, você foi jogada fora, em campo aberto, pois, no dia em que nasceu, foi desprezada.(6) “Então, passando por perto, vi você se esperneando em seu sangue e, enquanto você jazia ali em seu sangue, eu lhe disse: Viva! (7) E eu a fiz crescer como uma planta no campo. Você cresceu e se desenvolveu e se tornou a mais linda das joias. Seus seios se formaram e seu cabelo cresceu, mas você ainda estava totalmente nua. (8) “Mais tarde, quando passei de novo por perto, olhei para você e vi que já tinha idade suficiente para amar; então estendi a minha capa sobre você e cobri a sua nudez. Fiz um juramento e estabeleci uma aliança com você, palavra do Soberano, o SENHOR, e você se tornou minha. (9) “Eu lhe dei banho com água e, ao lavá-la, limpei o seu sangue e a perfumei. (10) Pus-lhe um vestido bordado e sandálias de couro. Eu a vesti de linho fino e a cobri com roupas caras. (11) Adornei-a com joias; pus braceletes em seus braços e uma gargantilha em torno de seu pescoço; (12) dei-lhe um pendente, pus brincos em suas orelhas e uma linda coroa em sua cabeça. (13) Assim você foi adornada com ouro e prata; suas roupas eram de linho fino, tecido caro e pano bordado. Sua comida era a melhor farinha, mel e azeite de oliva. Você se tornou muito linda e uma rainha. (14) Sua fama espalhou-se entre as nações por sua beleza, porque o esplendor que eu lhe dera tornou perfeita a sua formosura. Palavra do Soberano, o SENHOR.
Jerusalém é como uma criança órfã recém-nascida que Deus a adota. Deus ama a cidade a ponto de declarar que ela a Ele pertence - “...e você se tornou minha” (verso 8). Creio ser muito importante afirmar que a cidade pertence a Deus – “minha é a terra”, porque existe por ai, em meio de alguns irmãos nossos, uma ideia não bíblica de que a cidade pertence a Satanás. O mundo jaz no maligno, mas jamais a Bíblia afirmou o mundo pertence ao maligno.
Aquele que ama e como fruto deste amor adota a cidade é também aquele que demonstra compaixão e justiça em relação à cidade. Esta é a terceira maneira como Deus vê a cidade: ele a vê por meio da compaixão e justiça. Compaixão porque tem a capacidade de chorar e derramar lágrimas por estado da cidade. Jesus ao ver Jerusalém chorou (Lc 13:34-35). Foi um choro que demonstrou o quanto ele amava aquela cidade e também em ver o estado de pecado em que ela se encontrava. Foi como o choro de uma mãe que sente a dor de uma filha que se dela se afasta (por isso a imagem da galinha/pintinhos).
A continuação do texto de Ezequiel 16 deixa claro essa maneira compassiva e justa do olhar de Deus para com a cidade:
(15) “Mas você confiou em sua beleza e usou sua fama para se tornar uma prostituta. Você concedeu os seus favores a todos os que passaram por perto, e a sua beleza se tornou deles. (16) Você usou algumas de suas roupas para adornar altares idólatras, onde levou adiante a sua prostituição. Coisas assim jamais deveriam acontecer! (17) Você apanhou as joias finas que eu lhe tinha dado, joias feitas com meu ouro e minha prata, e fez para si mesma ídolos em forma de homem e se prostituiu com eles. (18) Você também os vestiu com suas roupas bordadas, e lhes ofereceu o meu óleo e o meu incenso. (19) E até a minha comida que lhe dei: a melhor farinha, o azeite de oliva e o mel; você lhes ofereceu tudo como incenso aromático. Foi isso que aconteceu, diz o Soberano, o SENHOR. (20) “E você ainda pegou seus filhos e filhas, que havia gerado para mim, e os sacrificou como comida para os ídolos. A sua prostituição não foi suficiente? (21) Você abateu os meus filhos e os sacrificou para os ídolos! (22) Em todas as suas práticas detestáveis, como em sua prostituição, você não se lembrou dos dias de sua infância, quando estava totalmente nua, esperneando em seu sangue. (23) “Ai! Ai de você! Palavra do Soberano, o SENHOR. Somando-se a todas as suas outras maldades, (24) em cada praça pública, você construiu para si mesma altares e santuários elevados. (25) No começo de cada rua você construiu seus santuários elevados e deturpou sua beleza, oferecendo seu corpo com promiscuidade cada vez maior a qualquer um que passasse. (26) Você se prostituiu com os egípcios, os seus vizinhos cobiçosos, e provocou a minha ira com sua promiscuidade cada vez maior. (27) Por isso estendi o meu braço contra você e reduzi o seu território; eu a entreguei à vontade das suas inimigas, as filhas dos filisteus, que ficaram chocadas com a sua conduta lasciva. (28) Você se prostituiu também com os assírios, porque era insaciável, e, mesmo depois disso, ainda não ficou satisfeita. (29) Então você aumentou a sua promiscuidade também com a Babilônia, uma terra de comerciantes, mas nem com isso ficou satisfeita. (30) “Como você tem pouca força de vontade, palavra do Soberano, o SENHOR, quando você faz todas essas coisas, agindo como uma prostituta descarada! (31) Quando construía os seus altares idólatras em cada esquina e fazia seus santuários elevados em cada praça pública, você só não foi como prostituta porque desprezou o pagamento. (32) “Você, mulher adúltera! Prefere estranhos ao seu próprio marido! (33) Toda prostituta recebe pagamento, mas você dá presentes a todos os seus amantes, subornando-os para que venham de todos os lugares receber de você os seus favores ilícitos. (34) Em sua prostituição dá-se o contrário do que acontece com outras mulheres; ninguém corre atrás de você em busca dos seus favores. Você é o oposto, pois você faz o pagamento e nada recebe. (35) “Por isso, prostituta, ouça a palavra do SENHOR! (36) Assim diz o Soberano, o SENHOR: Por você ter desperdiçado a sua riqueza e ter exposto a sua nudez em promiscuidade com os seus amantes, por causa de todos os seus ídolos detestáveis, e do sangue dos seus filhos dado a eles, (37) por esse motivo vou ajuntar todos os seus amantes, com quem você encontrou tanto prazer, tanto os que você amou como aqueles que você odiou. Eu os ajuntarei contra você de todos os lados e a deixarei nua na frente deles, e eles verão toda a sua nudez. (38) Eu a condenarei ao castigo determinado para mulheres que cometem adultério e que derramam sangue; trarei sobre você a vingança de sangue da minha ira e da indignação que o meu ciúme provoca. (39) Depois eu a entregarei nas mãos de seus amantes, e eles despedaçarão os seus outeiros e destruirão os seus santuários elevados. Eles arrancarão as suas roupas e apanharão as suas joias finas e a deixarão nua. (40) Trarão uma multidão contra você, que a apedrejará e com suas espadas a despedaçará. (41) Eles destruirão a fogo as suas casas e lhe infligirão castigo à vista de muitas mulheres. Porei fim à sua prostituição, e você não pagará mais nada aos seus amantes. (42) Então a minha ira contra você diminuirá e a minha indignação cheia de ciúme se desviará de você; ficarei tranquilo e já não estarei irado. (43) “Por você não se ter lembrado dos dias de sua infância, mas ter provocado a minha ira com todas essas coisas, certamente farei cair sobre a sua cabeça o que você fez. Palavra do Soberano, o SENHOR. Acaso você não acrescentou lascívia a todas as suas outras práticas repugnantes? (44) “Todos os que gostam de citar provérbios citarão este provérbio sobre você: ‘Tal mãe, tal filha’. (45) Você é uma verdadeira filha de sua mãe, que detestou o seu marido e os seus filhos; e você é uma verdadeira irmã de suas irmãs, as quais detestaram os seus maridos e os seus filhos. A mãe de vocês era uma hitita e o pai de vocês, um amorreu. (46) Sua irmã mais velha era Samaria, que vivia ao norte de você com suas filhas; e sua irmã mais nova, que vivia ao sul com suas filhas, era Sodoma. (47) Você não apenas andou nos caminhos delas e imitou suas práticas repugnantes, mas também, em todos os seus caminhos, logo se tornou mais depravada do que elas. (48) Juro pela minha vida, palavra do Soberano, o SENHOR, sua irmã Sodoma e as filhas dela jamais fizeram o que você e as suas filhas têm feito. (49) “Ora, este foi o pecado de sua irmã Sodoma: ela e suas filhas eram arrogantes, tinham fartura de comida e viviam despreocupadas; não ajudavam os pobres e os necessitados. (50) Eram altivas e cometeram práticas repugnantes diante de mim. Por isso eu me desfiz delas, conforme você viu. (51) Samaria não cometeu metade dos pecados que você cometeu. Você tem cometido mais práticas repugnantes do que elas, e tem feito suas irmãs parecerem mais justas, dadas todas as suas práticas repugnantes. (52) Aguente a sua vergonha, pois você proporcionou alguma justificativa às suas irmãs. Visto que os seus pecados são mais detestáveis que os delas, elas parecem mais justas que você. Envergonhe-se, pois, e suporte a sua humilhação, porquanto você fez as suas irmãs parecerem justas. (53) “Contudo, eu restaurarei a sorte de Sodoma e das suas filhas, e de Samaria e das suas filhas, e a sua sorte junto com elas, (54) para que você carregue a sua vergonha e seja humilhada por tudo o que você fez, o que serviu de consolo para elas. (55) E suas irmãs, Sodoma com suas filhas e Samaria com suas filhas, voltarão para o que elas eram antes; e você e suas filhas voltarão ao que eram antes. (56) Você nem mencionaria o nome de sua irmã Sodoma na época do orgulho que você sentia, (57) antes da sua impiedade ser trazida a público. Mas agora você é alvo da zombaria das filhas de Edom e de todos os vizinhos dela, e das filhas dos filisteus, de todos os que vivem ao seu redor e que a desprezam. (58) Você sofrerá as conseqüências da sua lascívia e das suas práticas repugnantes. Palavra do SENHOR. (59) “Assim diz o Soberano, o SENHOR: Eu a tratarei como merece, porque você desprezou o meu juramento ao romper a aliança. (60) Contudo, eu me lembrarei da aliança que fiz com você nos dias da sua infância, e com você estabelecerei uma aliança eterna. (61) Então você se lembrará dos seus caminhos e se envergonhará quando receber suas irmãs, a mais velha e a mais nova. Eu as darei a você como filhas, não porém com base em minha aliança com você. (62) Por isso estabelecerei a minha aliança com você, e você saberá que eu sou o SENHOR. (63) Então, quando eu fizer propiciação em seu favor por tudo o que você tem feito, você se lembrará e se envergonhará e jamais voltará a abrir a boca por causa da sua humilhação. Palavra do Soberano, o SENHOR” (Ez 16:15-63).
Estas palavras precisam ser lidas com a ótica de um traído e abandonado. Deus sofre ao ver a cidade se corrompendo e andando longe dele. Apesar de pronunciar sua compaixão e justiça, o final de tudo é este: “por isso estabelecerei a minha aliança com você, e você saberá que eu sou o SENHOR. Então, quando eu fizer propiciação em seu favor por tudo o que você tem feito...” (Ez 16:62-64).
Deus se regozija na cidade, querendo redimir e não esquecer sua criação. Deus deseja redimir a cidade reconstruindo a velha Jerusalém que será remodelada e reconstruída na nova Jerusalém. Essa reconstrução pode ser física, econômica, política e espiritual. Quantas instituições e movimentos não encontramos nas cidades que ao meu ver são braços de Deus visando sua restauração e redenção. As muitas creches, asilos, orfanatos, lares, distribuição de comida, casas de recuperação são expressões do amor redentivo de Deus. Do ponto de vista cultural, a restauração das praças, parques, lugares turísticos são também obras com o dedo de Deus. A igreja com a cidade será aquela que trabalha na reconstrução e redenção dela.
2.2. Onde está Deus na cidade?
Onde está Deus em tudo isso? É a pergunta que muitos fazem em meio ao caos urbano. A resposta é simples: Deus está bem no meio de tudo isso! No meio do quebrado e contundiu, do atordoado e desorientado, do fraco e vulnerável, do moribundo e morte. Ele não está confortavelmente sentado em uma poltrona celestial, assistindo a vida humana com um controle remoto em suas mãos. Ele está aqui, no meio da vida humana. E esse é o lugar onde a igreja deve estar também. Aqueles que creem que Deus esta longe assistindo a drama ad vida, tendem também a ter uma igreja distante, que não participa da vida cotidiana. Tendem a desenvolver uma espiritualidade de geografias, os seja, de lugares sagrados para com Ele se encontrar. Por esta razão muitas pessoas oram assim ao entrar na igreja: “Senhor, agora que entramos em tua presença...” E a pergunta que fica é esta: qual saiu? Simples: ao sair da igreja. Deus, é portanto, refém da nossa visão. Infelizmente os teólogos sistemáticos não nos ajudaram muito neste aspecto. Parece que enfatizaram muito mais o Deus absconditus do que Emanuel. Mais o Deus de olhos gigantes do que o Deus com mãos solidárias. Eu me treino constantemente para poder ver em meio a vida humana. Existe uma tragédia, minha tendência é dizer que Satanás se fez presente. Eu me reeduco para poder ver Deus bem no meio da vida. Me faço lembrar do seu Filho, que é Deus conosco, que se fez presente entre os pobres, fracos, que ia em festas, que comia com pecadores, que era solidário ao doente, que se compadecia que gente entupida de pecados. Onde esta Deus nisso tudo? Ele está aqui no meio de tudo. Ele está onde sua criação esta. Onde o necessitado e aflito estão ele também esta para socorrer. Ele está em relação e interação. É possível ver Deus exatamente de forma contrário como aqui descrevo, mas eu me nego.
Jesus disse “o que vocês deixaram de fazer a alguns destes mais pequeninos, também a mim deixaram de fazê-lo” (Mt 25:45). Deixar de fazer é não ser compassivo e amoroso. Quando buscamos suprir as necessidades do próximo, ali estava Deus bem no meio de tudo através de nós. Jesus também disse na parábola do Bom Samaritano, “vá e faça o mesmo” (Lc 10:37). Nos tornamos como Cristo para o próximo quando vamos e fazemos o mesmo. Quando acudimos ao necessitado, limpamos sua ferida, e os despedimos em paz. Deus está no meio de nossos relacionamentos. Nós tornamos a presença de Deus real quando encarnamos em nossas cidades de hoje nossas atitudes de compaixão e amor.
No livro de Apocalipses temos uma dica de como é o plano de Deus para a cidade, que lá Deus habitará finalmente com seu povo. Na cidade não haverá templos: “não vi templo algum na cidade, pois o Senhor Deus todo-poderoso e o Cordeiro são o seu templo” (Ap 21:22). Creio que nós poderíamos acelerar esse processo. Hoje eu não posso dizer assim: não vejo nenhum templo na cidade. Nossa escassez não é de templo, mas o que fazer com eles. Para alguns, o templo é muito santo e sagrada para certas atividades. Se desde agora o Senhor Deus todo-poderoso e o Cordeiro são nossos templos, então podemos pensar melhor sobre a resposta da pergunta, onde esta Deus na cidade. Ele está onde nós estivermos. Mas se não estivermos ele deixará de estar. Certamente não! Porém, se Deus esta presente entre nós, então devemos tratar cada um, nossos visitantes e estrangeiros que encontramos em nossos caminhos com respeito, porque quem sabe se não estamos hospedamos anjos e nem sabíamos disto.
2.3. O que Deus quer que sua igreja seja na cidade?
A partir desta reflexão quero compartilhar finalmente como eu acho que Deus gostaria que sua comunidade fosse na cidade. Talvez isto tenha a ver muito mais com meus anseios do que com uma justa e clara visão a respeito do próprio Deus. Colocando assim, não corro o risco de colocar Deus em prejuízo. Isto é o que eu penso a respeito do que Deus pensa sobre a ação da igreja na cidade.
Eu vejo que Deus deseja que sua igreja seja um centro de hospitalidade para cidade. Creio que a visão de Deus para a cidade é que sua igreja seja um lugar onde todos são bem recebidos. A qualquer momento, o estrangeiro é bem recebido entre nós. Teremos duas afirmações possíveis. Quando Jesus fizer a chamada: Mateus 25:35 – muitos dirão: presente! (“fui estrangeiro, e vocês me acolheram”). Também quando Jesus fizer a chamada: Mateus 25:43 – muitos dirão: presente! (“fui estrangeiro, e vocês não me acolheram”). A igreja deve ser um centro de hospitalidade. Um centro de hospitalidade é um lugar de boas-vindas. Um lugar onde as pessoas possam se sentir em casa. Isto não é simplesmente ter uma recepção de boas-vindas nas igrejas, mas ter toda a comunidade que demonstra a hospitalidade para com o estrangeiro. Um centro de hospitalidade onde o solitário encontra amizade, onde o confuso encontra entendimento.
Vejo também que Deus deseja que sua igreja seja um centro de refúgio aonde os fora e os estrangeiros, o pobre e o fraco, o perseguido e o não-amado possam encontrar um santuário. Isto nos faz lembrar das Cidades Refúgios que Deus preparou Israel no Antigo Testamento. Talvez a palavra asilo possa ser pertinente aqui. Ela oferece asilo para pessoas que:
Muitas vezes o fato de termos um estoque de cestas básicas em algum lugar da igreja fala mais do que até mesmo encher a barriga de alguém. Demonstra nossa preocupação de sermos asilo para o desamparado. Revela nossa intenção de ser asilo. Isto me faz lembrar de uma história de um sacerdote católico da cidade de Los Angeles, que fomos (eu e um grupo de alunos do Fuller Theological Seminary) visitar por ser sua paróquia uma comunidade urbana, em meio as gangs de Los Angeles. Ele nos contou a seguinte história.
Certa vez um homem que no passado havia pertencido a nossa paróquia veio nos visitar. Depois de conversarmos um pouco, ele assim me disse. “Padre, foi aqui nesta paróquia que foi batizado, onde aprendi as coisas a respeito de Deus, onde minha fé foi alimentada. Porém, hoje este lugar não mais uma igreja, pois olhe aquele mendigo sentado lá no fundo. E aquele lugar ali que costumava ser uma sala de oração virou banheiros onde os mendigos tomam banho. Antes este lugar era organizado, agora é uma baderna, um entra e sai de gente. Isto mais se parece como uma rodoviária do que com uma igreja. É, de fato, isto era uma igreja”. O padre, sabendo exatamente o que se passava no coração daquele homem, em vez de responder ou retrucar, preferiu chamar um daqueles homens que ali estavam. Ele disse: “Pedro, você poderia vir aqui um instante, por favor”. E lá vem o Pedro, todo alegre e feliz. “Pedro”, pergunta o padre, “o que significa este lugar para você?”. Ah padre, este lugar é tudo para mim. Eu estava morrendo debaixo da ponte e quando me trouxeram para este lugar eu encontrei uma família. Este lugar é a família que eu nunca tive. O padre agradece ao Pedro e o despede. Em seguida ele chama uma moça, e faz a mesma pergunta. Ela logo diz que aquele lugar salvou a vida dela, pois estava grávida, correndo risco de vida, e ali ela havia encontrado refúgio para poder receber a criança que estava em seu ventre. O padre agradece a moça e a despede. E assim ele o fez com mais algumas pessoas. Ao final de tudo ele se vira para o Pedro e diz: “Pedro, eu sinto muito que para você este lugar era uma igreja. Mas eu não sinto nem pouco por todas estas pessoas que estão aqui, pois para elas, esta é a única igreja e família que eles possuem”. É claro que eu nem preciso dizer que ao ouvir esta história verdadeira que nós estávamos em pranto, percebendo que aquela comunidade havia se tornado um centro de hospitalidade, um centro de refúgio, uma cidade santa para aqueles que haviam, perdido as esperanças de viver.
Ainda vejo que Deus deseja que sua igreja seja um centro de misericórdia, esperança e vida. Igreja é betesda – uma casa de misericórdia. Se existe um lugar no mundo onde a vida deve receber o máximo valor e na igreja na vida daqueles que professam a Jesus. Nossos legalismos e tradicionalismos só existem porque a vida não é nossa prioridade. Quando a vida está acima de tudo e ocupa a prioridade das nossas agendas, então é possível colher espigas no sábado (Lc 6:1). Então é possível curar um homem de mão atrofiada no mesmo sábado (Lc 6:6). È sábado, mas existe uma mulher que está encurvada, com problemas na colina cerca de dezoito anos, e ela sai curada (Lc 13:11). A vida está em primeiro lugar, mesmo o líder fique “indignado porque Jesus havia curado no sábado, o dirigente da sinagoga disse ao povo: “Há seis dias em que se deve trabalhar. Venham para ser curados nesses dias, e não no sábado” (Lc 13:14). Havia um homem cujo corpo estava todo inchado (Lc 14:1-2) e Jesus faz a seguinte pergunta para os religiosos, “Se um de vocês tiver um filho ou um boi, e este cair num poço no dia de sábado, não irá tirá-lo imediatamente?” (Lc. 14:5). A resposta deles foi o silêncio: “e eles nada puderam responder” (Lc 14:6). Em vez de se posicionarem uma função da vida, escolheram a covardia da tradição. É triste ter que chegar a esta conclusão por causa das tradições: “Hoje é sábado, não lhe é permitido carregar a maca” (Jo 5:10).
Creio que também precisamos aprender o que Jesus disse aos que refutavam sua participação com os pecadores: “vão aprender o que significa isto: ‘Desejo misericórdia, não sacrifícios’. Pois eu não vim chamar justos, mas pecadores” (Mt 9:13; 12:7). É possível fazer as coisas e até mesmo liderar a igreja de Deus sem misericórdia. Por isso Jesus disse: “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês dão o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas têm negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vocês devem praticar estas coisas, sem omitir aquelas” (Mt 23:23).
Jesus tinha o desejo que sua casa fosse lembrada como uma casa de oração: “a minha casa será casa de oração” (Lc 19:46). Qual é lugar da oração nesta reflexão? Por meio da oração demonstramos misericórdia, esperança para pessoas e valorizamos a vida delas. Ouso afirmar que a oração deveria produzir em nós um coração mais misericordioso. Uma boca que profere esperança para o outro e a vida como centro das nossas atenções. Uma casa de oração é uma casa de misericórdia. Uma casa de oração é uma casa de esperança. Uma casa de oração é uma casa de vida!
Finalmente, eu preciso ver que Deus deseja que sua igreja seja um centro sinalizador do Reino. Assim como o farol esta para o mar, assim também está a igreja para a cidade. A igreja é convocada para ser “um sinal de contradição”, assim como foi Jesus. Simeão avisa e previne Maria que seu filho seria “um sinal de contradição” (Lc 2:34). Isto significa desafiar as normas e valores deste mundo, como demonstrado o sermão do monte.
A igreja está na cidade e com a cidade. Está junto com muitas outras instituições, prédios, centros comerciais, entre os ricos e pobres, poderosos e sem vozes, sendo ela também um sinal de contradição – contra as coisas que são desumanas, desafiando os valores do mundo e apontam os valores do reino de Deus, sua justiça, uma igreja inclusive e aberta, unida na diversidade, uma comunidade de compaixão.
Conclusão
Começamos nossa reflexão discernindo duas localidades geográficas: o jardim do Éden e a Nova Jerusalém. Sabemos de onde viemos, o que fizemos, e para onde vamos. Viemos de um lugar projetado para ser harmônico, que foi invadido pelo pecado e vamos para a Nova Jerusalém, a santa cidade restaurada por Deus. Enquanto lá não estamos, nosso desafio é viver no já do nosso chão com os paradigmas do ainda não. Se para lá vamos, então vamos trazer o lá para o aqui. Nada de escapismos e de fuga. Sejamos crentes e oremos como Jesus nos ensinou: venha o teu reino; e seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6:10). Não nos pode passar desapercebidos esses assim na e como no. Assim como a vontade de Deus é plena no céu, da mesma forma seja ela na terra. Isto nos lembra outro assim como: “assim como o Pai me enviou, eu os envio” (Jo 20:21). Por isso, me esforcei para demonstrar que enquanto não estamos na Nova Jerusalém é o nosso dever missionário viver na Velha Jerusalém (o nosso hoje) como se estivéssemos na Nova Jerusalém. Somos como os patriarcas da fé, que “esperavam eles uma pátria melhor, isto é, a pátria celestial. Por essa razão Deus não se envergonha de ser chamado o Deus deles, e lhes preparou uma cidade” (Hb 11:6). Para isso, me esforcei em demonstrar três perspectivas:
Onde esta Deus? Ele está aqui, no meio de nós e tudo.
O que é a sua igreja? Um coração que bate no coração da cidade. Se esse coração vai continuar batendo ou não depende nós. Essa foi a proposta de Jeremias (29:7) para os judeus que estavam exilados na Babilônia, sem esperança, rejeitados, sonhando um voltar aos velhos e gloriosos dias de Jerusalém e seu Templo. Jeremias fala para eles pararem de pensar no passado e começar a viver o presente, o aqui e agora, no meio de uma cultura e um povo estranho. Trabalhem (produzam) o bem onde vocês estão. Construam casas e casam-se, construam uma comunidade, compram e vendam – ou seja – vivam plenamente onde Deus os colocou. “Busquem a prosperidade da cidade para a qual eu os deportei e orem ao Senhor em favor dela, porque a prosperidade de vocês depende da prosperidade dela” (Jr 29:7).
Nós todos estamos nesta vida juntos. Estamos interconectados, interligados, Igreja e Cidade. Não somos entidades separadas, costa a costa. As portas das nossas igrejas devem olhar para cidade e a cidade deve olhar para as portas das nossas igrejas. Estamos ligados juntos e juntos devemos viver. O bem-estar nosso depende também do bem-estar da cidade. Na prosperidade da cidade seremos prósperos também. Willian Temple disse que a igreja que vive para ela mesma morrerá por ela mesma.
Deus continua procurando sua criatura, reclamando dela uma resposta a sua pergunta: Onde estas? Esta pergunta também serve para a igreja: onde está a minha paróquia? Que nossa resposta seja a de John Wesley, “minha paróquia é o mundo”.
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