Por Jorge Henrique Barro
Marc Augé (Poitiers, 1935), m etnólogo francês, coordenador de pesquisas na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS), que ele presidiu entre 1985 e 1995. Augé criou um importante conceito para a Sociologia, o não-lugar. O não-lugar é diametralmente oposto ao lar, à residência, ao espaço personalizado. É representado pelos espaços públicos de rápida circulação, como aeroportos, rodoviárias, estações de metrô, pelos meios de transporte, pelas grandes cadeias de hotéis e supermercados (1).
É comum ouvir que se alguém deseja matar a missão, construa templos. De fato, temos alguns exemplos no Brasil de igrejas que abriram mão dos seus templos tradicionais e se estabeleceram em outros lugares dando uma “cara” mais de peregrina (tendas, hotéis, escolas). É a igreja que define a missão ou a missão que define a igreja? Os templos hoje, em sua vasta maioria, estão a serviço da missão ou a missão está a serviço dos templos? A ênfase maior hoje é centrípeta (de fora para dentro) ou centrífuga (de dentro para fora)? Espera-se que a igreja vá até as pessoas ou que as pessoas venham para a igreja? As respostas para essas perguntas passam pelo entendimento do papel/função do templo.
Usando a linguagem de Marc Augé, lugar está relacionado com três dimensões: são identitários, históricos e relacionais. Diferentemente dos não-lugares, são caminhos e não estradas. Os lugares implicam em ambientes de pertencimento enquanto os não-lugares são espaços de acesso, de movimento, trânsito, passagem, como os aeroportos, bancos, shoppings e supermercados. Nestes, a pessoa é cliente-consumista-passageiro-ouvinte, numa relação individual. Marc Augé fala do lugar antropológico simbólico marcado pela identidade (sua pessoalidade), a relação (seu grupo social) e a história comum (seu destino). Assim, o não-lugar caracteriza-se pela ausência desses símbolos. Negar o lugar é negar esses símbolos.
Pensando nos dias atuais e nos templos urbanos, como poderíamos caracterizar esse espaço? Ao longo dos séculos, a igreja de Cristo sempre foi caracterizada por sua ênfase pessoal, comunitária e missionária. Ou seja, sua identidade está voltada para a pessoa, sua relação ao próximo e sua história pelo compromisso com a missão no mundo. Nos dias atuais muitos pastores e líderes estão enfatizando uma relação não mais de membro, mas cliente; não mais de serviço, mas de consumo; não mais não mais de missão, mas de prosperidade; não mais de corpo de Cristo, mas de indivíduos sedentos de bênção. Essas inversões simbólicas podem acelerar o processo para transformar a igreja de lugar para não-lugar! A igreja não-lugar deixa de ser um caminho para se transformar em uma autopista de indivíduos que querem saem de um ponto-para-o-outro. Corre o risco de se tornar num espaço de passagem, impessoal, individual, marketera, vendedora de bens e consumos espirituais. Que diferença faz para uma pessoa entrar em uma igreja e entrar supermercado, se ambos são clientes?
É notório que os templos estão se modernizando, remodelando, outros com novas fachadas, enquanto outros já são construídos com novas caras e alta tecnologia. Quanto mais luxuosos e requintados eles se transformam, tanto mais proibições e regras aparecerão quanto o seu uso. Alguns pensam mais no templo para se fazer casamentos, grandes celebrações e pouco se pensa nos pobres, destituídos e miseráveis. Quão fácil é deturparmos os propósitos de Deus para nossos templos: “A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos. Mas vocês fizeram dela um covil de ladrões” (Mc 11:17). De casa de oração para casa de malandros – que tragédia! E como tem ladrões e mercadores eclesiásticos hoje em dia. Qual a finalidade de um templo, bem no meio da cidade, existir? A missão força o templo abrir suas portas. A omissão força fechá-las. Jesus o tempo todo tentou mostrou aos seus discípulos as pessoas e suas necessidades, mas, certa vez, quando ele tinha “saído do templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele os seus discípulos para lhe mostrar o templo” (Mt 24:1). Aquilo que os fazia ficar admirados, em breve “não ficaria pedra sobre pedra” (Mt 24:2). “Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei” (Jo 2:19). Um novo templo estava emergindo na cidade: o “santuário do seu próprio corpo” (Jo 2:21). A missão saiu de uma geografia estática para vidas dinâmicas. Será que como os Coríntios, nos esquecemos ou ainda não nos conscientizamos que somos “santuário [templo] de Deus e que o Espírito de Deus habita em nós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; pois o santuário de Deus, que somos nós, é sagrado” (1 Co 3:16-17). Por isso quando o Espírito Santo desce ele enche de poder esse novo santuário sagrado – nós! O templo se fez povo! Esse é templo que o mundo urbano precisa ver e admirar – as pedras vivas (1 Pe 2:5). E é melhor nos acostumarmos porque no city tour que João fez a Nova Jerusalém, ela relata: “Não vi templo algum na cidade, pois o Senhor Deus todo-poderoso e o Cordeiro são o seu templo” (Ap 21:22). Se somos um santuário sagrado bem no meio da cidade e para a cidade, certamente seremos sempre ambiente para que a graça e o amor de Deus possam ser manifestados.
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Bibliografia
Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Marc_Aug%C3%A9>. Acessado em 15 AGO 2007.